Fora de catálogo há anos, discos solo de Nico (Velvet Underground) serão relançados

imagem divulgação

A Domino anunciou nesta quinta-feira (01) novas edições físicas do segundo e terceiro álbuns solo de Nico, The Marble Index de 1968 e Desertshore de 1970. Ambos estão esgotados há muito tempo; as edições estarão disponíveis em vinil e CD, com áudio masterizado a partir das fitas originais, no dia 29 de março.

The Marble Index e Desertshore, ambos coproduzidos por John Cale, colega de banda de Nico no Velvet Underground, influenciaram fortemente o movimento do rock gótico; o icônico jornalista musical Lester Bangs escreveu: “The Marble Index é a maior peça de música ‘clássica de vanguarda’ e ‘séria’ da última metade do século 20 até agora”, e o New Yorker recentemente saudou ambos os discos como “milagres austeros de vontade e invenção.”

Ambos os álbuns estão disponíveis novamente em CD e vinil após estarem esgotados. O áudio foi masterizado a partir das fitas originais. The Marble Index Domino Mart Edition apresenta uma edição limitada de 7” de duas faixas, “Roses in the Snow” e “Nibelungen”, que nunca foram lançadas em vinil. O CD e LP de ambos os álbuns incluem fotos inéditas de Nico por Guy Webster.

1967 foi um ano transformador para a artista alemã Nico. Após o lançamento de The Velvet Underground & Nico,  ela deixou o grupo e gravou seu primeiro trabalho solo, Chelsea Girl. Ela ficou decepcionada com o álbum, perturbada pela adição da flauta nos arranjos, mas também talvez pela sensação de que ainda não havia expressado seu verdadeiro eu na música. Naquele verão, ela fez amizade com Jim Morrison, do The Doors, que atualmente estava no topo das paradas com “Light My Fire”. Morrison encorajou Nico a escrever suas próprias canções e escolher um instrumento. Ela escolheu o harmônio, um teclado movido a pedal que funciona como um pequeno órgão. Acústico e relativamente portátil – necessário para seu estilo de vida transitório – bem como fundamentalmente individualista, o harmônio era palpavelmente a contraparte instrumental de Nico. Ela se dedicou inteiramente ao seu ofício: quando não estava escrevendo músicas à luz de velas na banheira, ela praticava harmônio noite e dia.

O resultado destes esforços foi o The Marble Index de 1968, um recorde ambicioso e intransigente. Vanguardista de ponta a ponta, suas canções são ao mesmo tempo arcaicas e abstratas, prenunciando a música industrial e ambiental. Nico foi acompanhado no estúdio por seu antigo colega de banda John Cale, marcando o início da longa carreira deste último como produtor. Embora o harmônio fosse então popular nas versões ocidentais da raga oriental, Cale se apoiou nas raízes clássicas europeias do instrumento e combinou as letras góticas de Nico com instrumentação austera.

Quando Nico gravou seu terceiro álbum solo, Desertshore, de 1970, ela não se parecia mais com a superstar cuja imagem já adornava enormes pôsteres em Manhattan. Seu renascimento artístico exigiu uma nova identidade visual e as franjas loiras e os ternos brancos de seus dias de It Girls foram substituídos por roupas pretas volumosas e cabelos ruivos tingidos de hena. Embora Nico estivesse começando a lutar contra o vício em heroína que marcaria o resto de sua vida, Desertshore afirma que ela evoluiu para uma musicista mais confiante e Cale acentua esse crescimento com arranjos que voam alto. Desertshore recorre, ainda que indiretamente, às tragédias recentes na vida de Nico: a tentativa de assassinato de Andy Warhol (“The Falconer”); a morte de sua mãe (“Mütterlein”, que Nico conta em seu alemão nativo) e o afogamento de Brian Jones, dos Rolling Stones (“Zanitor of Lunacy”). “Você é linda e está sozinha”, Nico canta em “Afraid”, palavras que atingem o cerne de seus mitos complicados. Marble Index e o Desertshore capturam Nico em um momento crucial de autotransformação. Esses dois discos são retratos da mulher que ela indiscutivelmente foi: uma visionária complexa fadada a olhar para as profundezas da escuridão, sem medo de potencialmente se encontrar lá.

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