Após 50 anos, Roger Waters traz uma nova percepção do álbum “The Dark Side of the Moon”

Redação 89

Após 50 anos, Roger Waters traz uma nova percepção do álbum “The Dark Side of the Moon” Foto: Kate Izor

por Wendell Correia

Roger Waters decidiu fazer uma releitura de The Dark Side of the Moon, um dos álbuns mais famosos e consagrados da história da arte e indústria musical, lançado em 1973 quando o baixista e vocalista ainda fazia parte do Pink Floyd. A Rádio Rock teve acesso a audição do disco com exclusividade e aqui está a percepção de The Dark Side of the Moon Redux, que está sendo disponibilizado oficialmente hoje (06/10/2023) em todas as plataformas de streaming.

Atualmente com 80 anos, Roger Waters fez uma releitura que muitas vezes parece um audiobook da própria obra que fez com os companheiros de Pink Floyd quando ele tinha 30 anos. Ao ouvir The Dark Side of the Moon Redux pela primeira vez é possível notar que realmente ele traz o álbum com outra perspectiva. Além da sua voz grave cantando alguns versos que não canta originalmente, ele cita poemas e reflexões. A ideia parece ser realmente que ele está contando uma história com outro ponto de vista, com a experiência de um homem maduro. Assim como no disco original, também vale a pena escutar com fone de ouvido e atenção para viajar nas ondas sonoras da melhor forma possível.

Arte da capa de The Dark Side of the Moon Redux

Arte da capa de The Dark Side of the Moon Redux

A capa do disco também foi reimaginada. É parte do rosto de um lobo e, dentro do olho, encontra-se o prisma presente na famosa capa original The Dark of the Moon, uma das artes mais conhecidas da música.

Em um vídeo postado no seu canal oficial no YouTube, Roger Waters explica por que decidiu refazer The Dark Side Of The Moon: “É o aniversário de 50 anos do álbum original e achei que merecia ter uma nova percepção. Isso pode ser feito porque a mensagem e o conceito resistiram ao tempo. Precisava falar sobre isso novamente. Então fiz uma versão diferente que não é para substituir o original, mas sim lembrar e dar um complemento como se fosse um progresso do disco original. Eu amo o original e o que Nick Mason, Rick Wright, David Gilmour e eu fizemos. A nova gravação eu acho que é mais reflexiva e indicativa. É uma reinterpretação e espero que possamos ganhar mais com ela do que em 1973, quando foi lançada. Porque faz parte das nossas vidas há 50 anos e ainda não respiramos o ar (referência a música “Breathe (In The Air)”). Estou muito orgulhoso. Espero que seja um bom encontro para as pessoas, não apenas para as que gostam de música, mas também para as que gostam do amor e da vida.”

No mesmo vídeo, Roger Waters faz questão de citar os músicos que o acompanhou nas gravações: Joey Waronker na bateria, Gus Seyffert nos sintetizadores, Johnny Shepherd toca órgão, Azniv Korkejian o ajuda nos vocais, Jonathan Wilson na guitarra e Jon Carin, que também toca sintetizadores.

Confira a percepção faixa a faixa de The Dark of the Moon Redux:

SPEAK TO ME

Além das batidas de coração já presente na original, aqui é possível ouvir pássaros cantando ao invés da conversa de homens reclamando que estão sempre bravos. Roger Waters cita os primeiros versos da música “Free Four”, lançada no álbum Obscured by Clouds do próprio Pink Floyd em 1972, que fala sobre um homem idoso com oitenta anos (idade atual de Roger Waters) e uma turnê americana que pode te levar ao topo, mas que pode ser difícil sair dela.

BREATHE (IN THE AIR)

Depois de uma introdução instrumental maior, pássaros continuam piando nessa versão e Waters, antes de cantar os versos originais, acrescenta mais um pouco da letra de “Free Four”. Dessa vez, cita a parte que fala “mas você é o anjo da morte e eu sou o filho do homem morto”.

ON THE RUN

Roger Waters conta um sonho que teve em julho de 2021 em que começou uma briga junto com outras pessoas com um encapuzado malvado em uma estação de trem (também há uma estação de embarque na versão original), que é como se fosse a batalha final entre o bem e o mal.

TIME

Waters acrescenta uma introdução antes de cantar os versos, que diz: “A voz esteve lá o tempo todo escondido nas pedras dos rios, nos livros, da visão. Foi a voz da razão”. É uma versão mais reflexiva e calma que a original. Relembrando o verso citado no começo do álbum, a impressão que passa é que é o homem de 80 anos está falando sobre o tempo sem tanta pressa. Pássaros voltam a piar no final da música e um sino começa a badalar.

THE GREAT GIG IN THE SKY

Ao invés da introdução do Gerry O’Driscoll da versão original, aqui Waters começa a ler cartas e textos que trocou com a Kendall, assistente do poeta e amigo Donald Hall, na época em que ele foi diagnosticado com câncer. Relembra de um show que fez na Croácia onde contou a história de “Breathe” e sobre a doença, lembrando um livro que o amigo escreveu, chamado “There Is Only One Road”, que fala sobre um momento que o poeta esteve na antiga Iugoslávia. Roger continua dizendo que manteve o contato com a Kendall, que morava perto de uma estrada na fazenda dele, falando com ela e outras pessoas sobre manter o legado do Donald, entre outros detalhes que vai citando ao longo da música.

MONEY

Manteve a conhecida linha de baixo (um pouco mais calma), mas tirou a caixa registradora no começo e as conversas no final. A voz grave do Roger traz uma outra percepção da música, deixando-a mais sombria. Isso fica ainda mais evidente com o longo verso que ele acrescenta, que já começa com “bem-vindo ao inferno”.

US AND THEM

Essa é a versão mais próxima da original em todo o álbum. É uma releitura acústica da música (sem o saxofone e as conversas) acompanhada da voz grave do Roger Waters, que sempre traz outra percepção pela forma de cantar.

ANY COLOUR YOU LIKE

Além da melodia diferente da original, acrescenta versos que diz que é difícil entender bombardeios e tudo que envolve isso, citando cores como rosa, vermelho, preto e todo o arco-íris, trazendo referências ao título da música e a arte da capa de The Dark Side of the Moon.

BRAIN DAMAGE

Na faixa que cita o nome do álbum, Waters mantém os versos que ele mesmo canta originalmente. Outra música que é uma releitura acústica, com baixo, bateria e sintetizadores marcantes.

ECLIPSE

Também se encerrando com a batida de coração e outra releitura acústica, com versos fiéis ao original. Mas o verso que Roger encerra o álbum é diferente. Ele diz: “Vou te falar uma coisa, Jerry. Não existe cachorro velho, né?”. Se meus ouvidos e pesquisas não falharam, ele cita a peça “The Zoo Story”, escrita pelo dramaturgo Edward Albee em 1958, que explora temas de isolamento, solidão, falta de comunicação, disparidade social e desumanização num mundo materialista. A história é uma conversa entre os personagens Peter e Jerry no Central Park em Nova Iorque onde Jerry passa boa parte falando sobre um cachorro. O tema também faz sentido com as obras e temas abordados nas obras do Roger Waters.

Roger Waters vem daqui algumas semanas para o Brasil para se apresentar em Brasília (24/10), Rio de Janeiro (28/10), Porto Alegre (01/11), Curitiba (04/11), Belo Horizonte (08/11) e São Paulo (11 e 12/11). Provavelmente, vai tocar algumas dessas versões ao vivo nesses shows.



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