Os caras do The Used lançaram em maio deste ano Toxic Positivity, seu novo álbum de estúdio que desembarcou nas plataformas digitais via Big Noise.
Nosso produtor/apresentador Wendell Correia conversou com Jeph Howard, baixista da banda, sobre esse novo trabalho.
O baixista explicou por que os singles “People Are Vomit” e “Fuck You”, que antecederam o lançamento do novo disco, não entraram na tracklist.
O processo de produção e uma certa positividade no “lado sombrio” desse novo disco do The Used são outros destaques da entrevista, na qual Jeph conta ainda sobre a dificuldade de ser vegano e visitar o Brasil. Confira abaixo:
Wendell/89: Olá, Jeph! Como você está, cara?
Jeph: Bem! E você? Eu estou muito bem.
Wendell/89: Estou bem!
Jeph: Como está o seu dia?
Wendell/89: Está sendo bom. Está frio aqui no Brasil.
Jeph: Sério?
Wendell/89: Sim, é inverno aqui agora.
Jeph: Ah, está certo. Faz sentido. Está muito quente aqui agora.
Wendell/89: Você está em Madison, né?
Jeph: Sim, em Wisconsin.
Wendell/89: Como está sendo a turnê com o Pierce The Veil?
Jeph: Essa turnê está sendo ótima porque alguns desses caras são nossos amigos há vinte anos. Nós nos conhecemos, já até fizemos shows, mas nunca tivemos a chance de fazer uma turnê com eles. E a melhor parte dessa turnê é que eles estão fazendo igual nós. Por exemplo, todos os membros da equipe são parte da família, todas as portas ficam abertas. Qualquer um fica à vontade para entrar em qualquer ônibus ou camarim. É um clima muito bom. Então tem sido todos nós juntos nos divertindo em toda a turnê. É sensacional.
Wendell/89: Demais! Eu não tenho banda, mas acho que essa é a melhor forma de fazer turnê. Você tem algum ritual antes de um show?
Jeph: Ritual? Sim, temos alguns. Nós damos um grande abraço. Todos os dias nos abraçamos em grupo. E antes do show, andamos todos juntos no backstage. Estamos fazendo dois shows por dia, o que é divertido.
Wendell/89: Você só toma o seu chá matcha de manhã ou também antes dos shows?
Jeph: Meu Deus! Não apenas de manhã, eu faço o meu chá umas quatro vezes por dia, cara. Eu tenho um problema sério. Tomo umas quatro ou cinco vezes. Às vezes fico maluco. Não me dá só a cafeína. Se eu não bebo, fico doente.
Wendell/89: Isso é doido. É saudável tomar tanto chá matcha assim?
Jeph: Sim, não faz mal. É apenas chá verde na verdade. É muito bom tomar chá verde. Tem muitos benefícios para saúde. E eu ainda tenho uma estranha obsessão para o sabor disso. Eles sempre tomam muito café e cafeína, mas o chá matcha, cara…é o melhor! Se você pegar um bom matcha, vai ver o quão bom é. Você já tomou?
Wendell/89: Uma vez tomei chá matcha em um hotel, mas nunca fiz na minha casa.
Jeph: Você gostou?
Wendell/89: Sim.
Jeph: Boa!
Wendell/89: Eu entrevistei o Dan (baterista) em 2021 e ele me disse que vocês estavam trabalhando onze músicas novas com o John Feldmann (produtor) naquela época, há alguns anos. Essas onze músicas são as onze faixas que ouvimos no álbum “Toxic Positivity”?
Jeph: Essas eram apenas a metade. Depois desses dois anos, voltamos para o estúdio novamente recentemente e fizemos mais onze ou doze músicas. Então o “Toxic Positivity” é meio que uma mistura entre a primeira e segunda sessão, meio que as melhores. Mas isso significa que ainda temos mais nove músicas que ainda não lançamos e faremos isso no ano que vem, provavelmente.
Wendell/89: Legal!
Jeph: Gostamos de nos divertir.
Wendell/89: Isso sempre acontece porque eu lembro que também aconteceu com vocês no álbum anterior, o “Heartwork”.
Jeph: Isso mesmo.
Wendell/89: Depois vocês lançaram na versão Deluxe do álbum. Vocês vão lançar uma versão Deluxe ou será outro álbum?
Jeph: Acho que vamos, sim. Eu sempre penso que, se vamos fazer outro álbum, vamos realmente fazer outro álbum, sabe? Sempre parece que vem de uma era, então vamos lançar como uma versão Deluxe, sabe? Mas vamos ver. Sempre tem mais coisas para escrevermos e tempo para tocarmos.
Wendell/89: Eu tenho lido os comentários dos seus fãs, então vou perguntar por eles: por que as músicas “Fuck You” e “People Are Vomit” não estão no álbum?
Jeph: Porque…aí vai a explicação. “People Are Vomit” e “Fuck You” não entraram no álbum porque já tinham sido lançadas. Se as colocássemos no disco, isso significa que teríamos que tirar duas músicas. Então ao invés de tirar duas músicas do disco, pensamos em deixar essas que já tínhamos lançado de fora. Você pode ouvi-las no seu celular, pode achá-las. Por que lançaríamos duas músicas que você já ouviu? Foi a forma que pensamos.
Wendell/89: Faz sentido. Então está aí a resposta, agora os seus fãs sabem o porquê.
Jeph: Tá respondido.
Wendell/89: E você tem alguma faixa favorita no disco?
Jeph: Isso varia. Pendo mais a escolher “Headspace”. Gostei bastante de “Headspace”. Gosto muito de “Cherry”. Todas têm algo especial. “Giving Up” tem sido muito divertida. Temos tocado “Giving Up” nos shows. Na verdade, estamos tocando “Numb”, “People Are Vomit”, “Fuck You” e “Giving Up”. Temos tocado essas. Não necessariamente todos os dias. Mas elas estão sendo bem divertidas. Na verdade, elas funcionam muito bem ao vivo, então estou empolgado para tocar mais músicas desse disco porque acho que será um álbum ao vivo completo. O que é muito legal.
Wendell/89: E por que vocês escolheram “Numb” e “Giving Up” como os singles do álbum até o momento?
Jeph: Elas meio que fazem sentido. A energia do disco se encaixa com essas duas músicas juntas. O Bert (vocalista) estava passando por um período difícil durante a primeira sessão de composição. Acho que isso meio que resume tudo: “alguém mais se sente paralisado?”. Para mim, isso resume bastante. E depois da pandemia, todos nós precisamos de terapia, até agora. Uma terapia mundial, sabe? Estamos todos com a cabeça bagunçada no momento. E você ainda vê todas essas coisas ruins acontecendo no mundo, como políticos malucos, guerra, pessoas se machucando…Isso nunca acaba, mas parece que está mais acessível agora, está na sua frente o tempo todo. O que é algo bom porque podemos ajudar a resolver isso. Mas é difícil falar sobre isso todos os dias. “Giving Up” é meio que…quase que…a música tem algo positivo nela, sabe? É sobre não desistir, entende? É sobre superar e é por isso que é legal terminar o álbum com ela porque o disco é meio sombrio. É muito negativo, muito infeliz e essa era a energia durante a primeira sessão de gravação. Acho que a maneira perfeita de finalizar algo assim é mostrar que existe uma saída e que tem uma forma positiva de sair. Estamos todos juntos nessa situação, podemos nos ajudar.
Wendell/89: Sim, foi o que eu senti quando escutei o álbum pela primeira vez porque a letra diz: “Ontem acordei querendo morrer. Eu não estou desistindo de mim”. Isso é bom.
Jeph: Sim, isso é algo positivo considerando o lado sombrio do disco que diz “eu odeio todo mundo”, “f***-se você”. É uma maneira legal de finalizar um disco tão negativo e bravo.
Wendell/89: E é um ótimo nome para o álbum. Quero te perguntar como vocês decidiram o nome “Positividade Tóxica”, é algo que temos que falar sobre porque na internet todo mundo é legal e está vivendo uma vida maravilhosa. Eu fico bravo quando estou triste e alguém me diz: “não fica triste”, como se só porque me disse isso vou deixar de ficar triste.
Jeph: “Obrigado pela dica”, né? Isso é como me sinto hoje em dia, eu fico muito mal-humorado o dia todo, meio que “bad vibes” o tempo inteiro. Eu tenho tentado mudar isso, mas às vezes você não consegue. E tenho sorte por estar cercado de amigos que podem me ajudar a deixar de ser alguém negativo.
Wendell/89: E você postou no seu Instagram que você está colecionando dinheiro estrangeiro. Eu vi que tinha dinheiro do Brasil, contei 24 reais no vídeo. Isso dá cerca de 5 dólares. Você trocou o dinheiro?
Jeph: Eu troquei, mas não consegui quase nada porque eles pegam uma porcentagem. Então troquei todo aquele dinheiro e fiquei com cerca de 30 dólares. Trinta em dinheiro americano, né? O que é legal porque eu ia colecionar dinheiro para sempre porque eu vou, por exemplo, para o Brasil e tenho que trocar pela moeda local e compro comida ou qualquer outra coisa. Ou pego o dinheiro do dia para gastar com comida. E aí, quando volto para casa, eu penso: “Bom, estarei no Brasil novamente, então não vou trocar. Vou guardar”. E aí em alguns países houve a troca das notas e começaram a fazer mais dinheiro em plástico. Acho que o Brasil tem isso, né?
Wendell/89: Não, estamos usando bastante o cartão de crédito para comprar as coisas. É difícil ver alguém usando dinheiro em espécie hoje em dia para comprar alguma coisa.
Jeph: Isso faz sentido.
Wendell/89: E o que você lembra do Brasil?
Jeph: Cara, eu amo o Brasil! Eu fui para Jericoacoara (fala sotaque forte). Tô falando certo?
Wendell/89: Fala de novo.
Jeph: Jericoacoara (fala sotaque forte).
Wendell/89: Ah sim, Jericoacoara! É um lugar famoso aqui no Brasil.
Jeph: Isso! Foi muito divertido. Ficamos lá um mês, mais ou menos. É difícil porque eu sou vegano. Então estar no Brasil foi um período difícil. Acho que vivi de batatas fritas todos os dias e só.
Wendell/89: Agora acho que isso melhorou aqui, temos bastantes restaurantes veganos. Principalmente em São Paulo. Eu moro em São Paulo.
Jeph: Boa! Eu adoro São Paulo.
Wendell/89: E quando vocês vão voltar para cá? Já faz mais de 10 anos que não vem.
Jeph: Eu sei! Faz tempo. Nós…é engraçado! Eu vejo o tempo inteiro no nosso Instagram e até virou uma piada agora a frase “come to brazil”. Vemos o tempo inteiro no Twitter e Instagram. É muito engraçado. O problema é que ainda não temos certeza. Acho que o quanto antes, melhor. Mas a parte mais difícil é que os custos para irmos são caros. Para irmos para América do Sul é muito caro. Está ficando cada vez mais caro. Mas queremos ir e nos planejamos para isso. Tem conversas para isso acontecer no começo do ano que vem ou até no final desse ano. Não quero criar expectativas para depois falarem “Jeph disse que estão vindo”. Eu quero ir. Muito! Eu tenho que continuar insistindo com nossos empresários. Falar tipo: “Sério, galera. Quando vamos para a América do Sul?”. Ajudaria se tivermos muita ajuda, como por exemplo entrevistas, pessoas falarem com as rádios locais pedindo para nos levarem, falar com promotores para eles darem um jeito de nos levar. Mas o quanto antes, melhor. Estou com saudades do Brasil.
Wendell/89: Pierce The Veil acabou de vir para fazer shows aqui.
Jeph: Sério?
Wendell/89: Sim. Você pode falar com eles para fazer isso acontecer.
Jeph: Sim, por favor.
Wendell/89: E vocês tem tocado um cover de “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana. Gravaram essa música e a “Shadow Of The Day” do Linkin Park com uma citação de “With Or Without You” do U2. Algum motivo especial para fazerem isso ou é apenas uma grande influência para vocês?
Jeph: Nós sempre amamos Nirvana. Somos muito fãs do Nirvana e acho que todo mundo conhece essa música. Então tocá-la ao vivo é muito divertido porque é muito fácil entrar na “vibe” porque todo mundo conhece. É legal quando você está tocando no show, especialmente em turnês como a que estamos fazendo agora, onde uma porcentagem dos fãs é de assíduos e outra porcentagem apenas ouviu falar do The Used. E agora tem uma porcentagem que nunca nos ouviu porque tem outro tipo de público. Então quando você toca uma música do Nirvana, todo mundo conhece. Todo mundo participa, todo mundo se diverte. É como “quebrar o gelo”. A pessoa fica “eu nunca ouvi essa banda”, então ela fica prestando muita atenção por não conhecer, fica focado o tempo inteiro e aí, quando você toca algo assim, todas as pessoas que nunca ouviram nossas músicas e estão focadas para ver se gostam, deixam isso de lado e ficam malucas se divertindo. É muito divertido.
Wendell/89: Sim, eles são demais. Infelizmente nosso tempo está acabando. Muito obrigado pelo seu tempo, cara.
Jeph: Obrigado você também, eu gostei do papo. Por favor, nos leve para o Brasil logo. Ajude!
Wendell/89: Sim! Venha para o Brasil, cara.
Jeph: Eu quero! Ajude!
Wendell/89: Tenha um ótimo show hoje. Muito obrigado!
Jeph: Valeu!
This post was last modified on 22 de julho de 2023 12:03