O cantor e compositor Lobão, um dos maiores nomes do nosso rock nacional, marcou presença no podcast Corredor 5, apresentado por Clemente Magalhães, e fez uma análise do rock and roll no Brasil ao longo do tempo.
De acordo com o músico, o rock nunca foi aceito no País, nem pela direita e nem pela esquerda. “Dentro do inconsciente coletivo, da mentalidade brasileira, o rock não é pra ser aceito no Brasil. E isso sempre foi assim no Brasil, desde a passeata contra a guitarra elétrica em 1967 até os dias de hoje”, diz Lobão, em transcrição feita pelo Whiplash.Net. “Eu era virgem, nunca tinha fumado maconha mas era cabeludo, tinha 13, 14 anos, passava na rua e recebia revista da polícia porque era coisa de maconheiro, marginal, porque estava carregando instrumento”, acrescentou.
Segundo Lobão, na sua adolescência havia a direita que estava no poder na época, os militares, todos contra o rock, enquanto que a esquerda também se posicionava contra o gênero musical. Ele prossegue: “Eu nunca fui classificado com música em festival e todos os meu amigos de época, Cláudio Nucci, Zé Renato, todos foram campeões e todos eram ‘futuros Chicos Buarques’, eram incentivados… Aprendi muita coisa com eles, acho muito legal. Só não acho certo essa ditadura, tanto da direita quanto da esquerda… Um antropólogo, sociólogo ou alguém um dia vai estudar porque este fetiche pela negação ao Rock. A esquerda diz que é cultura imperialista (norte) americana, a direita diz que é coisa de maconheiro, gente que não toma banho e que é fedorento. O fato é que ambos os lados se unem para ter uma ojeriza, uma urticária estético-moral”.
Questionado por Clemente se o rock dos anos 80 foi um acidente de percurso, Lobão dispara: “Foi um acidente e que foi devidamente drenado porque, não sei se você se lembra, toda a imprensa dizia ‘este é o último verão do Rock’, ‘o rock Brasil não tem mais gás’, mas foram dez verões, cada vez os discos saindo melhores, letras mais elaboradas, as bandas melhorando. E veio o Rock in Rio pra acabar com a gente, a Bizz foi uma revista feita pra acabar com o Rock Nacional, então a gente teve que lutar o tempo todo!”
O Whiplash.Net ressalta que Lobão falou em sua entrevista que houve um boicote generalizado ao rock e ainda comentou que quem sobreviveu da geração dele, “acabou tendo que, de uma forma ou de outra, dar uma ‘abrasileiradinha’. Ele disse: “Ficou mais Tribalista, ficou mais Marisa Monte, senão você não toca no SESC, você não consegue tocar, há uma patrulha mesmo, uma coisa sistemática. E eu me recuso, desde a época do Wilson Simonal, eu me recuso a fazer parte disso, eu não vou me submeter a isso. Eu acho que sou a única pessoa que está viva ainda que não se submeteu e continua inteira, vamos dizer assim”.
This post was last modified on 30 de junho de 2022 12:03