A estratégia utilizada por fãs da cantora Anitta para aumentar artificialmente o engajamento do single “Envolver” no algoritmo do Spotify, conforme relatou ontem o site Tilt (UOL), não é algo novo nem isolado no mundo do streaming. Em julho de 2021, dezenas de sites que fraudavam plataformas digitais de música e vendiam o serviço de inflar artificialmente o número de audições de singles foram fechados após uma operação do Ministério Público de São Paulo (AQUI).
Como os “plays” são a métrica mais importante no mundo da música atualmente, impulsioná-los nas redes rende dinheiro e dá a impressão de sucesso. Combater a onda de “fake streams” é, sem dúvida, o maior desafio para as plataformas digitais, que mudaram radicalmente o consumo de música nos últimos anos, mas estão longe de ser a forma definitiva. Na verdade, são apenas o início de uma revolução nesse setor, porque novas tecnologias começam a ser descobertas pelo mercado, como blockchain, que nada mais é do que um registro usado principalmente no campo das criptomoedas. O Directivos y Empresas explica que o sistema funciona como um lugar onde as informações são colocadas e depois distribuídas para computadores que desejam acessar os dados. É uma forma de transmitir informações com segurança, evitando fraudes e golpes.
Mas qual é a relação entre blockchain e música? Essa tecnologia é capaz de dizer ao artista onde sua música está sendo consumida, a fim de obter lucro. O processo facilita a maneira de identificar os direitos autorais do criador de conteúdo, para que ele possa ser devidamente recompensado pelo que produz. Isso permite que a música possa ser distribuída diretamente do compositor para os consumidores, sem perder dinheiro e protegendo a arte ao mesmo tempo. E como tudo passa por uma “contabilidade”, é fácil provar qual o verdadeiro impacto de sua obra na rede. Ou seja, o “play” vem com recibo.
Atualmente já existem algumas plataformas de blockchain e música que permitem que os artistas tenham uma melhor remuneração por seu trabalho e acompanhem o seu desempenho. Uma recente matéria da Forbes destacou a atuação no mercado da Audius, que trabalha com um protocolo de streaming de música totalmente descentralizado. Mas há outros bons exemplo, como o Emanate, rede que fornece recompensas instantâneas para cada canção que é tocada. Outra plataforma nesse sentido é a Musicoin, que caracteriza-se por sua transparência e segurança. Já o AnoteMusic é um projeto que permite que transações descentralizadas sejam feitas com músicas de artistas e proteção de direitos autorais. Também há organizações sem fins lucrativos que exigem um protocolo de código aberto na indústria musical, como a Open Music Initiative. Recentemente, o site Biultin.Com atualizou sua lista das empresas que utilizam blockchain na música (AQUI).
A chegada desses serviços tem relação direta com a nova forma como as músicas passarão a ser vendidas, sem a necessidade de intermediários se apropriarem da maioria dos royalties. Compositores e artistas musicais poderão ver a partir de um painel todos os lugares onde sua música está sendo consumida em tempo real, e serão capazes de obter lucros imediatos ao oferecer métricas confiáveis sobre o impacto de sua música na comunidade digital. Fundos de investimento já se ligaram nessa possibilidade e começaram a adquirir catálogos de artistas como Bruce Springsteen, Bob Dylan, Red Hot Chili Peppers, Paul Simon, Beach Boys, Neil Young, Lindsey Buckingham, Stevie Nicks, entre outros grandes nomes. Aqui no Brasil, a Phonogram.me se destaca por um serviço que permite que qualquer pessoa adquira um fonograma e receba os royalties quando ele é executado (AQUI). Entre a comunidade de músicos, o DJ e produtor Steve Aoki é um dos que estão mais ligados na tecnologia de blockchain e já lançou o seu Aokiverse, plataforma voltada ao comércio de NFTs (tokens não fungíveis). Numa entrevista ao The Verge, ele disse que a venda desses tokens estão fornecendo uma maneira diferente para os músicos estarem mais engajados com seu público.
Todo esse movimento que a gente destacou neste texto concentra-se na terceira onda da internet, na qual o blockchain é essencial e que foi destaca na semana passada no artigo de Mitch Glazier na Variety. Segundo ele, que é CEO da RIAA (organização que representa a indústria fonográfica nos Estados Unidos), a Web3 nos dá novas maneiras de nos conectarmos uns com os outros e embarcarmos em experiências físicas e on-line. O mais interessante é que Glazier garantiu que a RIAA e seus colaboradores estão trabalhando duro para acabar com os chamados “maus atores” no mercado e proteger os fãs de música.
This post was last modified on 13 de abril de 2022 12:03