Conversamos com Jacob Hemphill, vocal do Soja

Redação 89

Conversamos com Jacob Hemphill, vocal do Soja imagem divulgação

Os caras do Soja lançaram nesta última sexta-feira (24) um novo álbum de estúdio que leva o nome de Beauty In The Silence.

Pra explicar um pouco sobre a essência desse trabalho, o vocalista da banda Jacob Hemphill conversou com nosso apresentador/produtor Wendell Correia.

Jacob revelou que a inspiração para o nome do disco veio de um poema que seu pai recitava, comentou sobre as inspirações de UB40, Bob Marley e Peter Tosh na sonoridade do Soja, além da produção que rolou antes e durante a pandemia.

Utilize o player abaixo e confira na íntegra essa entrevista:

Aqui a transcrição da entrevista:

Olá, Jacob! Como você está, cara?

E aí!

Você está bem? Tudo certo?

Muito bem. Estou trancado em um estúdio de gravação por dois anos, o que parece ser algo ruim, mas para mim é muito divertido.

Gostaria de começar a entrevista perguntando para você sobre o Brasil. Acho que você já sabe que o Brasil realmente ama vocês. Você sabe disso, né?

Sim, percebi isso nesses últimos 15 anos.

Talvez você não saiba disso, mas todas as vezes que eu vou para a casa de algum amigo, eu sei que vai ter um momento que alguém vai colocar uma música do Soja. Como você se sente em relação a isso, ao Brasil, o que mais gosta daqui?

Vou começar com uma história. A primeira vez que fui para o Brasil nós fomos para São Paulo e fomos até o local do show para levar os instrumentos e passar o som. O lugar do show era um hangar de aviões sem os aviões. Foi a maior coisa que já tinha visto na minha vida. E o Bird, nosso baterista, falou: “Vai ter umas 20 pessoas aqui”. E os ingressos esgotaram. Então tinha umas 4 mil pessoas no nosso primeiro show. Foi um dos melhores momentos da minha vida. Eu não conseguia acreditar. E pensamos: “Beleza, talvez seja só em São Paulo”. E aí fomos para o Rio de Janeiro e aconteceu a mesma coisa. Em Florianópolis, também aconteceu o mesmo. E aí fomos para Curitiba e estava igual. Todos os lugares que íamos tocar, as pessoas amavam a nossa música e não estavam lá apenas para curtir. Estavam lá para cantar as letras das músicas. Claro que tinha pessoas bebendo, dançando e tudo mais. Mas a sensação era que significa algo a mais para eles. E na verdade o Brasil mudou a forma que eu componho música, honestamente. Porque senti que as pessoas deixavam as letras afetarem a sua vida positivamente. E essa é a minha primeira e ainda mais forte memória do Brasil.

Para nós, parece que vocês são uma banda brasileira.

Eu sempre penso que o dia que eu me aposentar eu vou pegar uma casa na praia e… Eric (empresário que também estava na sala do Zoom), em qual cidade estávamos quando ficamos comendo lagostas na praia?

Eu sempre tento lembrar. Eu acho que é Recife ou Recipe.

Isso, Recife! Sempre penso que quando eu me aposentar, vou pegar uma casa na praia em Recife e apenas olhar o sol nascer e se por durante todos os dias para sempre até os dias finais.

Você deveria fazer isso. E vocês estão na ativa há mais de 20 anos. Ao que você atribui a longevidade da banda?

Eu até falo sobre isso na nova música “Press Rewind”. Para continuar fazendo isso por mais de 20 anos, você tem que lembrar por que você começou. Talvez não seja a experiência que todo mundo tenha, mas é a nossa. Quando você começa, você faz isso porque você ama. E se você tiver sorte isso vira um trabalho de verdade. Mas se não tomar cuidado, vira apenas um trabalho que você não ama mais. Aí é só sair por aí, cantar, tocar, pegar o ônibus, ir para o hotel, fazer esse show, sabe? Se você não for esperto e não lembrar o que você amava quando começou, isso vai acabar. E depois de 20 anos, temos nos lembrado como banda que temos que lembrar porque todos os dias depois da escola enquanto fazíamos o Ensino Médio nós íamos para a casa do meu pai ou para a casa do baterista para tocar e praticar todos os dias. A razão pela qual íamos para um bar todos os finais de semana para tocar para 15 pessoas sem ganhar nada por isso. A razão pela qual gastamos todo o dinheiro que ganhamos trabalhando comprando equipamentos musicais. Abrimos mão de todo nosso tempo e pouco dinheiro que tínhamos por que realmente amávamos fazer isso. Então para ter longevidade, você tem que lembrar disso ou então vai ser apenas um trabalho que você tem para tentar pagar sua hipoteca e sustentar a sua família. E os fãs sabem quando é apenas um trabalho. Eles sabem disso quando te veem lá em cima no palco. E sabem quando você está lá e está apaixonado por isso.

Eu acho que vocês têm feito tanto sucesso no mundo todo porque as mensagens das suas músicas servem para todos. Parece que você está falando sobre as suas próprias experiências, mas também as experiências dos seus amigos, pais, namoradas. Sobre o que você pensa quando está escrevendo as suas músicas?

Eu tento me colocar no lugar de outras pessoas. Então eu penso sobre um dos meus amigos que está passando por alguma coisa, como algum problema com drogas ou dinheiro, por exemplo. Ou qualquer outra coisa que esteja fazendo. E aí escrevo a música como se fosse eu que estivesse passando por essa situação. Ou penso sobre uma mulher que eu terminei o namoro e que não quero mais falar com ela e aí escrevo uma música me colocando no lugar dela. Ou penso sobre a minha mãe e como tem sido a vida dela e escrevo uma música como se estivesse magoado. Você assistiu a série “Game Of Thrones”?

Sim.

Então você lembra da garotinha Arya Stark, né?

Sim.

Lembra quando ela encontra o homem “sem nome” que serve ao Deus de Muitas Faces?

Eu lembro.

E que ele consegue tirar o rosto assim, dessa forma? E aí se torna outra pessoa?

Sim! Faz sentido.

É o que eu faço para viver. Mas eu não mato ninguém, apenas conto uma história.

Apenas dá um pouco de amor para as pessoas, né?

Sim, eu tento me colocar no lugar da pessoa. Tem um nome para isso: empatia. Entender a situação do outro e perceber que mesmo que não seja com você, continua sendo muito real.

E tem um novo álbum chegando no dia 24 de setembro, chamado “Beauty In The Silence”. Como foi o processo de composição e gravação?

Nós escrevemos metade do álbum antes da pandemia juntos em um estúdio e aí escrevemos a outra metade distantes um do outro. Então foi legal porque a parte que escrevemos juntos dá para realmente sentir a vibe. Então fomos para nossas próprias casas com todo o tempo do mundo para fazer isso, sem ninguém em cima do seu ombro dizendo “sim” ou “não” ou “toque assim”, “faça isso”, sabe? Você apenas dá o seu melhor. Então nós misturamos tudo. Eu gosto de fazer dessa forma. Acho que vamos manter esse processo de começar juntos numa mesma sala, formar os esqueletos das músicas, e aí cada um ir para o seu canto para criar os corpos das músicas.

E a inspiração para o nome do álbum veio de um poema que seu pai te falou, certo?

Sim. Ele sempre dizia que a vida tem duas partes. Tem a parte rápida e a lenta. Então a primeira parte do poema diz “vá placidamente, o que significa pacificamente em meio ao barulho e pressa, porque é isso que a vida é: barulhenta e rápida. E lembre-se da paz que pode haver no silêncio”. E isso é verdade, entende? Eu não saio do meu bairro há quase dois anos. E eu tenho que aprender sobre o silêncio e tenho que aprender sobre a paz e a beleza. Não posso ficar constantemente distraído por coisas, sucesso, posses e contas. Eu tenho que realmente gostar do que está na minha própria cabeça e encontrar a beleza e a paz.

Perfeito! Na primeira vez eu ouvi o álbum, eu comecei a fazer algumas anotações e percebi que tem três temas principais que você fala nas músicas e gostaria de saber se você concorda comigo. São músicas que falam sobre aceitar as coisas que não podemos controlar e continuar evoluindo como seres humanos; ajudar alguém que está passando por um momento conturbado; lembrar das boas memórias das nossas próprias vidas. Essas são as principais mensagens que você quer passar com esse novo álbum?

Muito desse álbum… Você é muito bom em perceber isso. Muito desse álbum está dizendo: “Olha, a vida vai ser boa e vai ser ruim. Vai ser fácil e vai ser difícil. Vai ser feliz e vai ser triste”. Sabe os monges budistas? O sorriso no rosto do Dalai Lama? Eu sempre quis sorrir assim. Ele não tem sapatos, não tem um celular, não tem uma Mercedes, não tem nada disso. Mas o sorriso dele… Eu acho sensacional! E

acho que ele pode sorrir assim porque ele sabe que não pode controlar a vida, mas pode aproveitá-la ou pode odiá-la. E é uma escolha. E essa é toda a mensagem do álbum. Essa estrada vai ser para cima e para baixo. Mas você tem que decidir se vai sorrir ao longo do caminho e ser legal com as pessoas.

Isso é perfeito! É uma grande mensagem que você está passando com esse álbum e obrigado por isso. E parabéns pelo novo álbum.

Muito obrigado!

Você tem uma música favorita no álbum?

A minha música favorita no álbum é a “Fall Like Rain”. É a última faixa do disco. Provavelmente não vai ser um single e não será um hit porque ela não foi feita para isso, entende? É mais uma música para você ouvir e pensar sobre o que estávamos falando na pergunta que você fez antes. E ela diz que “somos quem somos, construímos e quebramos, subimos e caímos, damos e recebemos, amamos sem motivo e sorrimos através da dor porque já estivemos aqui antes e estamos voltando. Caímos como a chuva.” Quando eu escrevi, eu pensei: “É isso!”. Todos os seres humanos sabem, e até os animais saberiam se eles soubessem falar inglês, que isso é verdade. Somos os dois: o bem e o mal.

Você lembra quando e onde você estava quando você escreveu essa letra?

Sim. Meu pai veio a mim em um sonho depois que ele faleceu. E eu perguntei para ele onde ele estava. No sonho, estávamos no jardim dele e eu perguntei para ele onde ele estava e ele apontou para as estrelas. E eu fiquei, tipo: “Você tá falando sério?”. E ele não estava falando comigo, mas apenas olhou para mim e colocou o pensamento dele na minha cabeça, que era: “É sério, cara. Estou aqui em cima.” E então colocou outro pensamento na minha cabeça que era: “Deixa eu te mostrar uma coisa”. E aí apareceu a Terra. E uma estrela cai na Terra e aproxima a visão. E isso é o círculo de um olho humano. Aí a visão afasta e percebo que o olho está em um bebê com a mãe. A visão se afasta ainda mais e aí está a Terra. Se afasta novamente, e é a Via Láctea, a galáxia. E eles são todos círculos. E então as estrelas começam a cair na Terra e ali está meu pai de novo. E eu fiquei pensando: “É isso?” E ele falou: “É isso, cara. É apenas esse círculo. Nós somos o que somos”. Eu acordei e escrevi a música. E essa é a minha música favorita que eu já escrevi. E eu também acabei de descrever o vídeo que eu vou fazer para a música.

Isso é lindo, cara! Tem que ser sua música favorita. É uma história linda.

Eu nunca vou escrever uma música que eu goste mais do que essa.

Sobre a música “The Day You Came”, nós estamos tocando na rádio e os ouvintes estão gostando. A música tem as participações do Rebelution e do UB40. Você é um grande fã de UB40, né?

UB40, Bob Marley e Peter Tosh eram tudo para mim quando eu estava crescendo. E meu pai me ensinou a tocar piano e violão usando as músicas UB40 porque ele sabia o quanto eu amava e ele também. Então eu me sentava ao lado dele no piano e ele me mostrava como tocar. Eu olhava ele tocar e fazia igual. Então, para mim, conseguir ter o UB40, um dos meus heróis na música, cantando letras que eu escrevi é como se fosse a maior honra da minha vida.

Está vivendo o sonho, certo?

Isso é muito maior do que eram os meus sonhos. Salvando o universo ou algo que eu não sei como explicar.

Essa é minha última pergunta, gostaria de ter mais tempo. Somos uma rádio de Rock, mas também tocamos alguns Reggae e todos gostam. Na sua opinião, quais são as similaridades entre o rock and roll e o reggae?

Eu acho que a melodia e a estrutura são muito semelhantes. Escuta Bad Religion, por exemplo. As melodias são como as melodias do reggae. Soa diferente. Mas faz “1, 2, 3, 4” e começa a música. E a estrutura da música é a mesma. E ambos dizem: “dane-se a maneira como o mundo está agora, deveria ser diferente”. Então, para mim, reggae e rock and roll são muito semelhantes nesse aspecto. Eu gosto de punk mais do que modern rock. Mas acho que os fãs de punk, reggae, ska e hardcore meio que falam sobre a mesma coisa. Entende o que eu quero dizer? Eles dizem: “dane-se o jeito que é, deveria ser diferente”.

Eu entendo e concordo com você. É isso.

Boa!

Muito obrigado, Jacob! Gostei bastante.

Obrigado você, cara!

Ansioso para ver você novamente, porque não sei mais em quantos shows eu já fui.

Venha me encontrar no próximo show, cara. Conversa com o Eric, ele é o nosso empresário. Diga a ele para levá-lo ao backstage e a gente te coloca para dentro.

Eu vou! Muito obrigado por isso.

Obrigado



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