Conversamos com Aston Barrett Jr., do The Wailers
O nosso produtor Wendell Correia conversou com Aston Barrett Jr da banda The Wailers pra falar sobre o novo single “One World, One Prayer”.
Utilize o player abaixo e curta esta entrevista aqui no site da 89:
WENDELL: Como você está?
ASTON BARRETT JR: E aí? Eu estou bem!
WENDELL: Onde você está?
ASTON BARRETT JR: Estou em Miami, Florida.
WENDELL: Você está bem?
ASTON BARRETT JR: Sim, estou bem! Muito obrigado por perguntar.
WENDELL: Pra começar, como que está sendo a quarentena pra você?
ASTON BARRETT JR: É uma novidade pra mim (ficar em casa). A parte boa é que eu passo um tempo com a minha filha e com meu pai, que é o grande Family Man. Estou aprendendo muito sobre história com ele. Ele está aqui agora, mas está almoçando.
WENDELL: Esse é o lado bom da quarentena, né? Passar um tempo com a família.
ASTON BARRETT JR: Sim, porque nós fazemos muitas turnês. A gente chega a fazer cerca de duzentos shows por ano. Então acabou sendo uma boa pausa para nós. Tudo tem seu lado positivo. Então tenho que ser grato pela vida.
WENDELL: E falando em turnês, vocês iriam se apresentar aqui no Brasil em março, mas os shows foram adiados. Podemos esperar vocês aqui no Brasil quando as coisas voltarem acontecer no mundo?
ASTON BARRETT JR: Claro! Já falamos com os promotores dos shows aí do Brasil. Já até temos datas. Será em 2021.
WENDELL: Ótima notícia! Estamos ansiosos para o show de vocês no Brasil. As pessoas gostam bastante dos Wailers aqui.
ASTON BARRETT JR: E nós gostamos do Brasil! O Brasil e a Jamaica têm uma conexão. Nos dias que o Brasil joga na Copa do Mundo, todos na Jamaica usam a camisa da seleção brasileira. E também tem o fato que o meu pai e o meu tio (Aston e Carlton Barret) fizeram uma música com o Gilberto Gil chamada “Vamos Fugir”. Na gravação da música, é o meu tio na bateria e meu pai no baixo. The Wailers que gravaram a base da canção.
WENDELL: A música é um grande hit aqui no Brasil. Todo mundo sabe cantar.
ASTON BARRETT JR: Sim! Eu lembro que o meu pai e o Gilberto Gil iam me buscar na escola. Eu não sabia quem ele era, então me perguntei “quem é esse cara que sempre está no carro com o meu pai?”. E depois que eu descobri o trabalho dele e percebi que era o cara que me buscava na escola com meu pai. Que loucura (risos).
WENDELL: Ótima história!
ASTON BARRETT JR: O coração dele é enorme e muito bom. É isso o que eu amo nos brasileiros. Eu tenho muitos amigos brasileiros. E a cena de Reggae no Brasil é muito boa! Vocês estão fazendo a lição de casa. É um fato.
WENDELL: Alguma outra banda ou músico brasileiro que você conheça além do Gilberto Gil?
ASTON BARRETT JR: Sim! Não sei os nomes de cabeça, mas conheço muitos músicos de várias bandas brasileiras. Eu também conheci o Carlo…esqueci o nome completo dele.
WENDELL: Alexandre Carlo (Natiruts)?
ASTON BARRETT JR: Isso! Ele também tocou no nosso álbum. Já no primeiro dia, assim que nos conhecemos, já nos conectamos. Começamos a fazer piadas…ele é ótimo! Quando formos ao Brasil, com certeza vamos falar com ele. Foi muito legal estar com ele aqui. Escutamos algumas músicas com o Emilio Estefan (produtor). Acho que ele também estava trabalhando com o Emilio.
WENDELL: Ele é muito legal mesmo! Ele toca numa banda chamada Natiruts e também é um bom jogador de futebol (risos).
ASTON BARRETT JR: Sério? (risos)
WENDELL: Sério. Você pode conversar sobre futebol com ele depois. Ele sabe jogar (risos).
ASTON BARRETT JR: Boa! Isso é ótimo. Eu também fiz algumas músicas com o Rafael (o cantor Rafael Cardoso), que também é brasileiro. Ele foi um dos meus primeiros fãs. Ele começou a seguir meu trabalho antes de eu ficar conhecido. Eu tinha acabado de me formar e ficava saindo com o meu pai. Ele começou a me seguir nas redes sociais e acompanhou meu crescimento profissional. Isso é ótimo! Agora mais gente me conhece, mas ele foi um dos primeiros. Então eu trabalhei com ele também.
WENDELL: E como foi o processo de composição e gravação da nova música “One World, One Prayer”?
ASTON BARRETT JR: A música “One World, One Prayer” foi escrita pelo Emilio Estefan (produtor). Quando nos encontramos, ele nos levou para a Sony Records (gravadora) e disse que queriam gravar o novo álbum dos Wailers. Eles e o Emilio estavam animados pra isso. Foi bom termos um mentor porque a última vez que os Wailers estavam organizados pra gravar um álbum foi com o Chris Blackwell (produtor) da Island Records. O meu pai e o Bob Marley sempre quiseram ter um produtor, mas na época não conseguiam, então eles mesmo aprenderam a produzir sozinhos. Eles queriam muito trabalhar com o Quincy Jones, da Motown, que trabalhou com o Jackson 5 e todos os Jacksons. Então a gente se encontrou com o Emilio, que já tinha escrito essa música há alguns anos, e ele disse que gostaria que nós a ouvíssemos. E quando ouvimos, automaticamente percebemos que era um hit. Mas antes ele tinha feito a música em ritmo de Salsa. Um pouco de Reggaeton também, mas era mais pra Salsa quando ouvimos a demo. Então ele falou: “OK. O que vamos fazer com a música?”. E na hora eu respondi: “Eu não sei, mas é para colocarmos em Reggae? Vamos ver o que a gente consegue fazer”. Depois da turnê, nós trabalhamos a música em um estúdio. Eu estava com Lenny Chang, que faz parte da nossa equipe. E encontrando com o Emilio por pelo menos duas semanas. A ideia original era gravarmos bateria na primeira semana, baixo na segunda, teclado na terceira e então todos da banda viajariam para nos encontrar. Mas então eu sugeri fazermos tudo de uma vez, antes de trazer a banda toda. E foi o que fizemos. E com isso terminamos o projeto mais rápido. Eu não tinha prestado atenção na letra quando eu estava criando o ritmo e “reggaeando” a música. Eu me preocupei em deixar no estilo que o meu pai e o meu tio fazem, entende? É o som dos Barrett, que são os Wailers. Quando terminamos, tínhamos duas ou três versões. E pegamos uma das versões e pensamos: “Meu Deus, como nós fizemos isso?”. Porque ela ficou com o amor que temos nos nossos corações. E teve o Emilio nos guiando também. Ele tem muita experiência e me ensinou bastante. Eu conheço muitos produtores que assinam com os artistas, mas ficam apenas sentados, deixando as coisas acontecerem. Já o Emilio me ensinou como ser um produtor de verdade. Todo mundo que você assina para produzir, você tem que trabalhar com a pessoa. Então trabalhar nos estúdios com os Wailers, é igual trabalhar no programa The Voice. Então em todos os estúdios têm alguém te apoiando na produção e de vários países. Nós tivemos que sair um dia, então ele recebeu o Farruko (cantor). Ele está sempre trabalhando! E trabalha de um jeito que parece que nunca trabalhou, parece que está começando. E é uma pessoa adorável. Eu estou na cozinha no estúdio, por exemplo, e ele está fazendo café pra mim. E eu fico sem entender (risos)! Ele lembra o meu pai de muitas formas, porque ele também é assim. Nós temos que viver do jeito que as coisas são e temos que viver da melhor forma que conseguirmos para aproveitarmos a vida. Ter uma vida é a melhor coisa. E se você estiver aproveitando, é o melhor que você pode fazer. Todos nós somos humanos e sentimos raiva e vários outros sentimentos, mas não podemos focar nisso. Por isso que você deve ter a sua volta pessoas boas. Se você estiver no meio de pessoas com raiva, você também vai ficar com raiva, certo? Então se você está ao redor de boas pessoas, também estará ao redor de pessoas bem sucedidas. Algumas pessoas conseguem sucesso ajudando outras pessoas, sendo um líder. Se o chefe usar uma palavra para dominar as pessoas, o relacionamento será ruim. O líder ajuda todo mundo que está trabalhando com ele. O Emilio ainda trabalha com várias pessoas que ele já trabalhava antes mesmo de eu nascer. E é assim que um líder tem que ser! Então contando rapidamente a história, o Emilio me perguntou: “Como está sua relação com a família Marley?”. E eu respondi que temos uma ‘conexão real’, como falamos na Jamaica. Então eu entrei em contato com todos os Marleys e falei o que estávamos fazendo, porque eu também trabalhei em projetos com eles. Trabalhei nos álbuns do Stephen, Julian e Damian Marley. O Damian ganhou um Grammy com a música “Struggle Discontinues”, que eu toquei todos os instrumentos. O Stephen é um dos melhores produtores atualmente. Já estive no estúdio com ele, que fica falando “acrescente isso, acrescente aquilo” e isso faz uma grande diferença. Então é muito bom estar com eles. São como meus irmãos mais velhos, nós crescemos juntos e eu sou um dos mais novos. Mas sempre fiquei perto deles, estudamos na mesma escola. Então eu mandei um e-mail para a Cedella Marley (filha do Bob Marley) escrevendo “Bom dia, Cedella! Espero que esteja tudo bem. Manda um ‘oi’ pra sua mãe e a todos por mim. Gostaríamos de ter o Skip Marley (filho da Cedella) nessa música se for possível”. Informei todo o processo, que estávamos gravando com o Emilio, e então ela perguntou onde era o estúdio. Eu disse que ficaríamos no estúdio até as 18h e ela respondeu “OK”. Ela pegou o carro na hora e veio pro estúdio! E então ela e o Skip vieram. Eu estava na parte de cima do estúdio. Os dois são abertos. O estúdio A é onde mixamos e fazemos os cortes finais. O estúdio B é onde gravamos tudo. Temos a mesa de som SSL 9000 J que é uma das melhores que eu já ouvi na minha vida! Embaixo tem uma mesa ótima também de uma marca que são meus parceiros, que mandaram algumas coisas únicas. Então eu estava embaixo com o Emilio ouvindo algumas coisas e aí o Lenny Chang abriu a porta e quem estava com ele? Cedella e Skip Marley! Na mesma hora, a presença deles foi tão grande que me impressionou. E foi uma honra. Agradeci por acreditar em nós e no nosso projeto. Então eles ouviram o álbum todo e foi ótimo! Você apenas ouviu uma música do álbum. Mas ele está com as raízes! Somos os Wailers, então soa como The Wailers. Essa música é para todo mundo, não apenas para uma categoria. Porque se vamos cantar “one world”, vamos fazer para todo mundo. E foi o que fizemos. Então tivemos diferentes sentimentos. O Emilio é latino (cubano) e aprendemos muito sobre essa cultura. O Reggae também é influenciado pela música cubana porque muitos cubanos vinham para a Jamaica. Então foi aí que surgiu essa mistura também com o Ska e o Rock. Então, pra finalizar, nós fomos para turnê e o Emilio nos ligou para dizer que a Cedella e o Skip Marley iriam no estúdio no dia seguinte. Então depois o Emilio me falou: “Advinha? A Cedella vai gravar a música!”. E eu fiquei muito feliz que ele conseguiu. Então você consegue ouvir a voz maravilhosa que ela tem na música e o Skip também fez um trabalho maravilhoso. E antes até de termos a Cedella e o Skip na música, o Emilio teve que viajar para Nova Iorque para cuidar de uns projetos que ele estava trabalhando e ele gostaria de ter alguém da Jamaica que trouxesse algo diferente das raízes do Reggae, que já tínhamos feito com The Wailers. Ele pensou no Sean Paul, Shaggy e outros nomes. Então decidimos pelo Shaggy. Ele descobriu que ele também estava em Nova Iorque. E então o meu amigo Lenny Chang…Eu não sei se você conhece o Lenny Chang, mas o pai dele é o Leonard Chang, que é muito conhecido na Jamaica. Foi ele que trouxe o Muhammad Ali pra Jamaica, que é muito respeitado aqui. E o Lenny Chang faz parte da minha equipe e também é amigo do meu pai e do Bob Marley. Então Lenny fez algumas ligações e conseguiu o Shaggy, que se encontrou com o Emilio e gravou a parte dele. Depois foi a história com a Cedella e o Skip. E depois, quando estávamos no estúdio depois de uma outra turnê, Emilio me disse que estava produzindo um cara. Não sei se o álbum dele fez sucesso no mundo todo. Mas eu falei: “Eu não sei o que ele está falando, mas é ótimo! Eu adorei”. E perguntei pro Emilio: “Algumas das músicas que você produz conseguem ficar desse jeito?”. Então ele falou que era uma coisa totalmente diferente, mas que funciona bem no país dele. E disse que queria trazê-lo pra participar de uma das músicas dos Wailers. Emilio disse: “Quando eu for pra casa, eu vou pensar sobre isso e te retornar para discutirmos o que podemos fazer.” E quando nos vimos, ele falou: “One World, One Prayer” e todos concordamos. Então saímos novamente para a turnê. Estávamos nesse processo de sair em turnê, voltar, gravar por uma semana no estúdio. E no estúdio, quando o Emilio nos mostrava, pensávamos que era uma obra prima. “One World, One Prayer” era um experimento. Pensávamos fora da caixa pra essa música. Nós pensamos que deveríamos fazer um Reggae, ou isso ou aquilo…nós nem pensávamos nada, apenas fazíamos o que dava vontade. Então meu pai veio ouvir a versão final. O meu pai é o desafio final. Algo como “vamos ver se você vai passar no teste”.
WENDELL: Ótima história! Ótimas lições também que você está ensinando. Nem precisei perguntar mais nada. Gostaria de termos mais tempo pra conversar.
ASTON BARRETT JR: Sem problemas, cara! Mas você tem todas as informações.
WENDELL: Obrigado, Aston! Gostaria de ter mais tempo pra conversamos. Te espero aqui no Brasil.
ASTON BARRETT JR: Sim, nós amamos o Brasil! Estaremos aí! Certo?
WENDELL: E nós amamos a Jamaica.
ASTON BARRETT JR: Sim, “One Love, One World” em todos os lugares.
WENDELL: Obrigado! Se cuida e fique bem.
ASTON BARRETT JR: Você também!