USP acelera teste de máscara com eficiência de até 97% na retenção de vírus

Redação 89

USP acelera teste de máscara com eficiência de até 97% na retenção de vírus Foto: Macau Photo Agency/Unsplash

Pesquisadores da USP testam em ritmo acelerado os materiais que serão usados na produção de máscaras para prevenir a transmissão do vírus da covid-19. Os estudos indicaram as matérias-primas mais adequadas para a proteção de profissionais de saúde e da população em geral, com eficiência de até 97% na retenção do vírus. Com base nos resultados, o projeto (respire!, coordenado pelo Centro de Inovação da USP (InovaUSP), vai produzir 1 milhão de máscaras para 8 mil profissionais em hospitais, por meio de grupos e cooperativas de costureiras, mobilizadas pela empresa Tecido Social. As recomendações estarão disponíveis para indústrias, ONGs e pessoas interessadas em produzir máscaras caseiras com bom nível de proteção.

O professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP, um dos responsáveis pelo projeto, explica que o vírus da covid-19 tem em média 120 nanômetros de tamanho (1 nanômetro é 1 bilhão de vezes menor que 1 metro). “Já existem evidências científicas de que a eficiência na retenção para partículas tão pequenas varia muito entre máscaras de uma mesma classe e entre diferentes produtos usados para confeccioná-las”, conta. “O objetivo dos testes de diferentes máscaras é medir a sua eficiência para retenção de partículas nanométricas.”

Segundo o professor Vanderley John, da Escola Politécnica (Poli) da USP, que também coordena a iniciativa, a prioridade é garantir máscaras para proteger os profissionais que vão cuidar dos pacientes com covid-19. “Sem eles não há atendimento hospitalar. Sabe-se também que a combinação de máscaras, isolamento social e higiene pode ajudar os cidadãos a diminuir risco de contágio quando tiverem que sair de casa”, destaca. “Estamos nos preparando também para fornecer subsídios às pessoas, a fim de que selecionem melhor os tecidos usados na confecção de máscaras artesanais.”

O professor da Poli observa que as máscaras precisam evitar que o vírus em suspensão no ar, onde pode ficar por um longo período, penetre na boca ou nariz do usuário, e também precisam prevenir que uma pessoa contaminada, ao falar ou espirrar, contamine as pessoas próximas. “A máscara é uma barreira, um filtro, então foi medida a eficiência de retenção de partículas, comparando o número e as dimensões de partículas entre 10 a 600 nanômetros que chegam a um detector com ou sem máscara”, relata. “Este ensaio não é o da regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porque compara o desempenho do produto com o banco de resultados que inclui as máscaras consideradas as melhores e também algumas não tão eficientes.”

O equipamento de medição consiste em um gerador de aerossóis que gera partículas do tamanho do coronavírus e um sistema eletrônico de detecção de partículas utilizando um equipamento chamado SMPS (Scanning Mobility Particle Sizer), acoplado a um contador de nanopartículas chamado CPC (Condensation Particle Counter). “Este equipamento, disponível no Laboratório de Física Atmosférica do IF, é muito sensível”, destaca Artaxo. “Ele foi adquirido para medir nanopartículas em suspensão na atmosfera, que afetam o clima, e foi adaptado no laboratório para este uso.”

Retenção do vírus

A prioridade dos testes são máscaras utilizadas em hospitais, que precisam ser de TNT, um tipo de “tecido” feito de plástico. No entanto, também começaram a ser testadas máscaras produzidas com tecidos de algodão de camiseta, que serão produzidas para uso doméstico. “Alguns TNTs têm eficiência de 97% na retenção de partículas, similar ao material das máscaras necessárias para equipes médicas que lidam diretamente com pacientes contaminados. Outros se mostram piores que tecidos convencionais”, afirma Vanderley John.

“Algumas máscaras de algodão grosso com camada simples, que são baratas e podem ser facilmente esterilizadas com fervura, podem ter eficiência de 60%”, descreve o professor da Poli. “Produtos com este nível de eficiência podem ser bons para quem sai à rua ou vai fazer compras e teria possibilidade de ficar exposto momentaneamente ao vírus, mas todos poderão se beneficiar de proteções maiores.”

Produção

O professor Artaxo aponta que os resultados tornarão possível selecionar os materiais para serem produzidos em massa, industrialmente. “Como não há, no mercado internacional, onde comprar hoje estas máscaras em grandes quantidades, teremos que adaptar novos materiais e testar com a nossa tecnologia”, ressalta. “Também serão feitas recomendações para a melhor construção de máscaras caseiras, para que forneçam a maior proteção possível à população.”

O método de ensaio foi desenvolvido para auxiliar a equipe multidisciplinar de desenvolvimento do núcleo Soluções Inovadoras para Pesquisa Interdisciplinar (Iris) do InovaUSP, que envolve designers, médicos, engenheiros, físicos e químicos na seleção dos insumos para o projeto (respire! , que já vai produzir 1 milhão de máscaras para proteger os 8 mil profissionais da equipe dos hospitais públicos, gerando renda para 100 famílias que trabalham com costura. “No caso de empresas, os ensaios serão feitos em troca de doação de produtos com bom desempenho ou recursos financeiros, que serão destinados para hospitais da rede pública”, afirma o professor da Poli. “Para ONGs com projetos relevantes vamos fazer gratuitamente.”

O site www.inova.usp.br tem mais informações e um formulário para os interessados. A produção das máscaras pelas costureiras está sendo organizada por uma empresa social, chamada Tecido Social. “Contamos também com outros parceiros empresariais que estão compartilhando conhecimento e começando a fazer doações”, destaca o professor da Poli. “Certamente mais parceiros irão se agregar ao projeto nos próximos dias, dada sua importância social neste momento crítico mundial”, conclui. A iniciativa tem a participação do IF, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli, do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e do InovaHC, com a coordenação do Iris InovaUSP.

Via Jornal da USP



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