A 89 conversou com o vocalista Ricky Wilson e o baixista Simon Rix da banda Kaiser Chiefs.
Ricky falou sobre os últimos shows do Kaiser Chiefs no Brasil, destacou os momentos desde a primeira vez em 2008 até o último show deste ano no dia 12 de junho. Divulgou o novo disco “Stay Together”, que será lançado o final deste ano.
Eles ainda revelaram detalhes sobre as mudanças que ocorreram no grupo e como isso fortaleceu a união entre os caras.
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Aqui está a transcrição da entrevista:
89: Esta é a quarta vez do Kaiser Chiefs no Brasil. O que marcou vocês nessas passagens?
Ricky Wilson: Nossa…Simon você tem uma ótima memória.
Simon Rix: É eu lembro. Então, a primeira vez foi em 2008. Eu não queria ficar triste porque não foi a melhor viagem. Várias coisas aconteceram, como o Peanut no hospital. Então não foi a melhor viagem, mas a gente não queria que isso atrapalhasse nossa história com o Brasil. Então, nós voltamos em 2013 e desde então todas as vezes que viemos novamente tivemos excelentes momentos como no Lollapalooza aqui em São Paulo, que foi uma das melhores apresentações. O Vijay (baterista) tinha acabado de entrar na banda e foi uma das primeiras apresentações dele fora do Reino Unido. Ainda acho que essa foi a apresentação favorita dele foi conosco. Estava lotado e eu realmente tive um ótimo momento. Depois voltamos na nossa turnê com o Foo Fighters. Este show também foi um dos melhores, especialmente no Brasil. Eu senti que as pessoas nos veem tão bem quanto veem os Foo Fighters. Às vezes acho que quando temos um suporte no palco, nós conseguimos chegar ao ponto em que conseguimos animar a plateia que está esperando o evento principal. Realmente acho que as pessoas no Brasil estavam parecendo felizes. Assim que terminamos, fomos conversar com o empresário sobre voltar aqui o mais breve possível, porque achamos que aqui temos muitos fãs e a gente não vinha com frequência. Então, eles disseram que a gente não poderia voltar sem ter um novo álbum. Pensamos: bom, estava aí um bom motivo para escrevermos, assim poderíamos voltar para o Brasil. Estamos aqui e temos um novo disco e se chama Stay Together, que será lançado no final do ano.
89: Falando do novo álbum, vocês costumam escrever sobre assuntos políticos. Como você mede o nível de “raiva” neste disco?
Rick: O nível de raiva de zero até dez, acho que é um e meio. Ainda é sobre política, mas está mais ligada à política pessoal dessa vez. O que está acontecendo dentro da gente. Uma coisa que a gente normalmente não costuma lidar nas nossas músicas. Porque é onde normalmente encontramos bloqueios e normalmente não gostamos de falar sobre nossas relações ou sentimentos. Mas neste álbum falamos destes assuntos, mas a gente ainda tem ajuda relacionada ao assunto. Aliás, foi no final do álbum em que tivemos um pouco de contribuição. É o nosso primeiro álbum sobre relacionamento, então não tem muita raiva. Só a raiva que passamos nos relacionamentos. Nós não estamos tentando “esmagar” o sistema aqui.
89: O show de vocês esse ano no Brasil foi no dia dos namorados. Qual música vocês dedicam aos casais brasileiros?
Ricky: Tem uma música neste álbum que gostaríamos de dedicar. Acho que é a segunda música do disco, chamada Hole In My Soul. É uma das minhas músicas favoritas e eu dedico a todas as mulheres e homens no Brasil.
89: Antes do show no Brasil, vocês colocaram uma contagem regressiva no site do Kaiser Chiefs.
Ricky: Sim, posso te dar fatos concretos em relação a isso. Quando tínhamos uma nova música saindo When That Gets To Zero, eu não sabia que era uma contagem regressiva. Para todos os outros pareciam fazer uma contagem regressiva, então eu acho que deveríamos fazer. Algo horrível aconteceu com a contagem regressiva do When That Get To Zero, uma das pessoas envolvidas acabou morrendo. Mas boas músicas conseguiram surgir da contagem regressiva e uma delas é a Parachute. É uma música que surgiu da contagem regressiva do zero, na realidade surgiu um minuto antes, porque nada acontece como planejado, não é mesmo? Parachute também é uma música sobre relacionamentos. Eu não posso parar de chamar de músicas de amor (românticas). Eu quero dizer tem dois significados de músicas românticas, elas parecem ser populares. Nós tivemos um ponto de partida e até que fomos bem sucedidos.
89: Li em um dos seus sites que gravar nos Estados Unidos para algumas bandas faz com que o som fique mais americanizado. Mas para vocês parece que o sotaque e som britânico ficou.
Ricky: Realmente foi um trabalho duro, você não pode revisar todo dia o álbum, não é fácil, não é como se fossemos em um jogo de basquete e sair com vários americanos, nós só saímos praticamente com a banda.
Simon: No nosso último álbum, acho que pensamos algo como “estamos nos Estados Unidos, sabemos a diferença entre o Reino Unido, de onde estamos e de onde viemos”. Me refiro as referências culturais e coisas que nós pensamos que todo mundo sabe, mas na verdade só a gente sabe, por causa do lugar em que nascemos. Acho que estes tipos de coisas acabaram surgindo neste álbum. Gravamos ele nas cidades de Castlefield e Kent, que ficam na Inglaterra. Então eu acho que esse álbum está bem britânico.
Ricky: Mas nem sempre estávamos juntos no mesmo estúdio neste álbum. Normalmente nos colocamos de lado por algumas semanas e fazemos tudo na mesma sala, mas neste até que foi divertido, porque o Simon foi para cama e eu não tive que estar lá tempo todo. Eu aproveitei um pouco desta vez. Brian Reagan é o produtor, ele estava lá desde o início, o que normalmente não acontece. Normalmente fazemos nosso som juntos e depois apresentamos para o produtor e gravamos. Mas ele estava moldando o que estava saindo de nós naturalmente. Você ouve muito sobre bandas como U2 indo neste estúdio, tocando o que sai e o produtor fala se é bom, ruim, ok ou se está terrível. Foi o que o Brian fez, ele achou uma luz nisso. Esculpiu as músicas e foi a melhor coisa que a gente já fez.
Simon: Antes, a ideia era: “vamos escrever as letras das músicas, só que iremos para um lugar em que não seja perto de nossas casas”. Gravávamos uma seção e parecia um álbum inteiro. Dessa vez, tivemos muitas pequenas seções. E íamos para casa todas as noites, que era perto para todos.
Ricky: Uma parte da razão a qual não podíamos continuar por muito tempo é que fazemos diferentes coisas cada vez, porque aí não tem chance de ficar entediado ou chato.
89: Falando em coisas diferentes, eu vi que vocês gravaram uma música para um programa de crianças (programa “Zig Zag”, do canal britânico CBBC. Como surgiu essa ideia e o quão diferente foi em relação ao tipo de música que o Kaiser Chiefs costuma fazer?
Ricky: O que normalmente acontece é que recebemos vários e-mails. E quando isso acontece, normalmente eles são ignorados. Mas nesta ocasião, Simon perguntou se queríamos fazer essa música. Respondemos que sim, já que não estávamos fazendo muita coisa. Então, eu o Simon fizemos a música, o que foi relativamente fácil, não foi?
Simon: Foi legal, eu pensei: “por que não?”. Também pareceu divertido e fez com fizéssemos coisas diferentes. Eu realmente gostei porque eu acho que gerou essa dúvida em quem quer nos definir. Quando você faz algo para a televisão, direcionado para crianças, você tem que pensar de uma forma engraçada e divertida. Isso é bom. Também pensar nas necessidades deles, mesmo porque tem várias músicas que acabaram não se encaixando nas ocasiões e que são perfeitas para um programa de televisão para crianças, casamentos, propagandas.
Ricky: Mas normalmente não fazemos esse tipo de coisa, porque as vezes deixamos passar algumas oportunidades. Mas apesar disso, é uma nova forma de sermos proativos em pensamentos. Se você tem que fazer algo, mas vai levar alguns dias e acabar pensando “porque estamos fazendo isto”, é melhor não fazer.
89: Além das mudanças que tiveram na banda, qual é a coisa mais difícil em estar todos juntos? Vocês eram amigos antes de formarem a banda.
Ricky: Na verdade, não é difícil, não. Quero dizer, obviamente quase todo dia eu falo para mim que eu vou desistir porque alguma coisa aconteceu com outro membro da banda ou “é isso, estou indo embora”. Mas aí eu penso comigo mesmo: “o que eu vou fazer se eu desistir?”. E a resposta é “nada”. Eu realmente não consigo fazer nada além disso. Você segue em frente e continua, porque a perspectiva de não fazer nada é absolutamente aterrorizante e também as coisas nunca são tão ruins quanto você pensa! Quantas vezes você quis desistir, Simon?
Simon: Nos apresentamos há pouco tempo em Buenos Aires e várias coisas aconteceram lá. Algumas coisas não funcionavam, a comida não era boa. Mas aí entramos no palco e foi uma boa apresentação no meio da multidão que estava lá. Depois eles estavam muito felizes que estávamos lá na Argentina e esta é a parte boa.
Ricky: A chave para a longevidade do sucesso de qualquer banda é que alguma vez em que alguém fala que tem cinco integrantes da banda, a qualquer momento alguém vai querer ir embora. E desde que uma pessoa saia de tempos em tempos, está tudo bem. Então sempre tenha certeza que este tipo de coisa pode acontecer e esteja preparado para estas circunstâncias, porque todos têm que seguir em frente.
89: Vocês são fãs do Leeds United?
Ricky: Esses caras são fãs do Leeds, eu sou menos que eles.
89: Vocês acompanham algum time brasileiro de futebol e tem algum time que você gosta aqui?
Simon: Não, não tem nenhum preferido. Mas assistimos algumas partidas de futebol de outros times, mesmo porque vale a pena assistir, e apenas os brasileiros. No Reino Unido, jogar em algum time era o meu sonho. Se os Leeds conseguirem algum jogador brasileiro novamente, seria bom, porque aí significaria que eles estão fazendo sucesso.
89: Como você descreve as músicas deste novo álbum?
Ricky: Este álbum é para ser lançado em outono (hemisfério norte). Este álbum foi guiado para ser o som do verão. Mas não vai ser lançado no verão, talvez porque vai ser lançado no outono, as pessoas estarão pedindo pelo verão e falar: “sabe, eu preciso deste álbum na minha vida”.
Simon: Tem a atmosfera do verão, é para vocês. A gente está abandonando uma antiga atmosfera e indo para atmosfera do verão, só que em dezembro.
Ricky: É engraçado que nós fazemos músicas realmente alegres, mas que são um pouco tristes. Mas como a melodia é animada, parecem alegres. Sempre tem um pouquinho de sofrimento, mas o que é a vida sem um pouquinho de sofrimento? Você não pode sorrir o tempo todo, mesmo porque as pessoas iriam te odiar.
This post was last modified on 4 de julho de 2016 12:03