Dominic Howard, baterista do Muse, recebeu a Radio Rock antes do show no Allianz Parque em São Paulo, no dia 24 de outubro, e falou sobre os problemas que teve que enfrentar por ser canhoto. Disse que no começo tocava bateria como se fosse destro, mas depois tentou variar, hora conduzindo a música com a mão direita, hora com a esquerda. Mas depois optou por ser canhoto mesmo, o que gerou alguns problemas nos seus primeiros shows, pois os produtores alegavam que não tinha espaço suficiente no palco para dois kits de bateria. Depois de algum tempo, ele conseguiu convencer que teria que levar sua própria bateria quando começou a quebrar os equipamentos dos outros por tocar muito forte.
Sobre o Brasil, Dominic elogiou bastante os fãs e afirmou que é um público maravilhoso para se apresentar. Ainda analisou o mais recente trabalho do Muse, o disco “Drones”, lançado em junho. Explicou melhor sobre o conceito do álbum, fazendo uma analogia entre o comportamento humano e os drones (veículo aéreo não tripulado) e explicou como surgiu a ideia de usar parte do discurso de posse John F. Kennedy, que foi presidente dos Estados Unidos.
Quando questionado o que caracteriza o som banda, o baterista do Muse não soube explicar, dizendo apenas que tentam misturar rock com música clássica e eletrônica e que o trio possui personalidades próprias nos respectivos instrumentos e juntos fazem um grande som.
O Dominic ainda contou o que tem ouvido de novidade, citando bandas como “The 1975”, “Girl Band” e “Run The Jewels”. Ao ser perguntado sobre a ideia de gravarem um álbum no espaço (falaram da ideia em 2011), o baterista respondeu de forma bem-humorada que estão construindo a própria nave, o que leva muito tempo, pois precisam fazer uma que realmente funcione e seja grande o suficiente.
Confira como foi a conversa com o Dominic Howard:
89: Vocês já vieram para o Brasil algumas vezes (foi a quinta passagem do Muse no país). Tem algum motivo especial para virem com tanta frequência ao Brasil?
DOMINIC HOWARD: Os nossos fãs brasileiros são maravilhosos! Eles ficam loucos nos nossos shows. Eles têm muita energia, fazem muito barulho e cantam todas as músicas. É um público maravilhoso para um artista se apresentar. Provavelmente essa é a razão do Muse vir tantas vezes ao Brasil nos últimos cinco anos.
89: Qual é o conceito do álbum “Drones”?
DOMINIC HOWARD: Nós queríamos fazer um álbum mais pesado em relação aos anteriores. Acho que era como nos sentíamos quando estávamos compondo as músicas que entraram no disco na época, nos nossos ensaios em Londres. Naturalmente as coisas começaram a sair, como os riffs de guitarras, por exemplo, e ficamos animados com isso. Então decidimos seguir nessa linha e fazer um álbum com conceito mais orgânico em relação ao som. E em relação às letras, o Matthew Bellamy (vocalista e guitarrista) começou a pensar como as pessoas estão ouvindo cada vez menos todas as faixas de um disco. E então, se fossemos fazer um álbum, pensamos que deveríamos fazer com um tema em comum que tivessem relação com todas as músicas do começo ao fim. Mas não acho que necessariamente tenha uma narrativa ou algo do tipo. E “Drones” é uma ideia que o Matthew teve, que envolve a tecnologia atual e também outras situações, como o quanto a gente pode ter a nossa privacidade invadida e também sermos usados da maneira errada. Achamos que o conceito do que são os drones seria uma boa analogia sobre a existência humana e como podemos ser manipulados por outras pessoas. E o álbum faz essa relação com os humanos, os drones e todos os sentimentos envolvidos, e criamos meio que um “humano-drone” e damos o recado para que ele saia dessa situação e lute contra esse tipo de imposição.
89: Por quê vocês decidiram usar parte do discurso de posse do John F. Kennedy (presidente dos EUA de 1961 a 1963) no álbum “Drones”?
DOMINIC HOWARD: A gente já usou esse discurso em alguns shows e sentimos que era certo usá-lo novamente e ficamos familiarizados com isso. Achamos que encaixou no conceito do álbum. Faz muitos anos que ele fez esse discurso, mas parece que é atual e faz muito sentido para o momento em que vivemos, envolvendo os governos que vão para a guerra, entre outras coisas. Então encaixou perfeitamente no conceito de “Drones”, principalmente no ponto de virada da história, em que o personagem fictício da história do álbum acorda e destrói o regime que vivia.
89: Como você define o som do Muse, que é algo muito característico?
DOMINIC HOWARD: Eu não sei explicar, mas somos nós, é o jeito que tocamos. Já tentamos experimentar coisas diferentes ao longo dos anos, como instrumentos diferentes e estilos, como rock, música clássica, eletrônica, etc. Mas acho que temos algo que dá essa característica da banda. Talvez tenha algum tipo de som ou poder que acontece quando nós três estamos tocando juntos. Algo acontece que eu não sei o que é. Eu fico tocando forte a bateria, Matt também na guitarra e eu fico atrás disso enquanto Chris fica no meio (risos). Isso que cria nosso som (risos)! Faz anos que tocamos juntos, mas acho que só conseguimos descobrir de verdade o nosso som no segundo ou terceiro álbum. Mas mesmo no nosso primeiro álbum, só o fato de optarmos por estar apenas nós três foi um grande passo e decisão e não queríamos outro integrante para nos ajudar, e isso nos ajudou a tocar da maneira que tocamos os nossos respectivos instrumentos, pensando individualmente em cada um. Tocamos juntos, mas cada um com uma personalidade própria no seu próprio instrumento, e juntos tentamos fazer um grande som com apenas três pessoas.
89: Você já teve algum problema em ser um baterista canhoto?
DOMINIC HOWARD: Quando eu comecei a tocar bateria, eu tocava como se fosse destro e depois tentei tocar conduzindo o tempo variando as duas mãos, como se fosse ambidestro, sem esquecer do pé também. O Ilan Rubin, baterista do Nine Inch Nails, faz isso e muito bem. Mas achei estranho essa variação, e decidi por ser totalmente canhoto também na bateria (risos). Nos meus primeiros shows, os palcos que eu tocava eram muito pequenos e eu levava o meu próprio kit de bateria, que era para canhotos, e as pessoas não deixavam eu montá-lo alegando que não tinha espaço no palco e que eu teria que tocar na que já estava montada, que era para destros. E aí eu mudava toda a bateria para que eu conseguisse tocar e as pessoas falavam que eu não podia fazer isso. Eu tenho o costume de tocar muito forte e quebrava os equipamentos das outras pessoas, o que acabou sendo uma boa desculpa para eu conseguir montar a minha própria bateria.
89: Quais bandas novas você tem ouvido?
DOMINIC HOWARD: Eu gosto de hip hop, como “Run The Jewels”. É um hip-hop mais alternativo que me agrada. É um pouco mais esquisito, mas tem uma base do hip-hop. E as letras são contra alguns tipos de organizações, algo que eu gosto. Sou muito fã deles. E também outras bandas novas, como “The 1975”, que são muito bons e lançaram recentemente um novo single que eu escutei recentemente. É uma banda muito boa! Também tenho escutado uma banda chamada “Girl Band”, de Dublin, na Irlanda. É a música mais estranha que eu já escutei. Eles tocam os instrumentos, mas na verdade tocam apenas notas, ou arranham o instrumento e tem um jeito bizarro que controlam o barulho que sai disso. E o cantor também é muito bom. Me lembra o Frank Black do Pixies. Ele grita bem e faz umas melodias bizarras do nada (risos).
89: Vocês realmente pretendem gravar um álbum no espaço? É uma piada ou é algo que vocês realmente estão planejando fazer?
DOMINIC HOWARD: Sim, com certeza vamos fazer isso. Ainda estamos construindo a nossa nave, o que leva muito tempo (risos). Não dá para economizar nessas coisas e precisamos fazer uma nave que realmente vai funcionar e seja grande o suficiente. Então ainda estamos construindo (risos).
Ouça na íntegra a entrevista com o Dominic Howard realizada pelo Rich Rafterman, com pauta e produção de Wendell Correia, na voz da apresentadora Marina Valsechi: