“Malévola” é um livro de capa bonita, mas sem conteúdo

Willian Maier

“Malévola” é um livro de capa bonita, mas sem conteúdo imagem divulgação

Crítica de Armando Saullo

Os vilões são parte fundamental de uma história e, por muitas vezes, acabam roubando a cena e virando os protagonistas. A Disney resolveu renovar o clássico “A Bela Adormecida”, trazendo a história em ‘live motion’ pelo ponto de vista da Malévola. A proposta chamou a atenção, já que o estúdio está em fase de estudos e pesquisas sobre esse novo mercado de consumo. As crianças hoje são diferentes das crianças de 1959, ano em que a animação original estreava e fazia história – foi o primeiro longa-metragem animado a ser filmado em 70mm com aproveitamento integral do formato widescreen. 

malevola01
Hoje, era do 3D e IMAX, a nova roupagem aproveita ao máximo os recursos digitais, quase 80% das cenas foram rodadas em fundo verde (cromaqui). É claro que é preciso fazer cinema para essa geração, acostumada com gráficos de videogame e personagens virtuais, mesmo que isso incomode os pais e o público adulto que também vão às salas. O universo mágico onde vive Malévola, o The Moors, é totalmente construído por computação, quase uma Pandora infantilizada (o universo de “Avatar”, que inclusive foi criado com a ajuda do diretor deste filme, Robert Stromberg). Saudades da época de diretores de arte como Michael Seymour (criador do “Alien”) e John Bell (“Jurassic Park”) – ambos ganhadores do Oscar por seus trabalhos incrivelmente realistas e a mistura de computação com robôs. Mesmo exagerando no digital, não se pode dizer que o visual é o problema de “Malévola”. A produção é bonita, bem feita, e tem uma ótima fotografia do australiano Dean Semler. Mas isso não é nenhuma surpresa: a Disney entregou o filme nas mãos de Stromberg, seu primeiro longa como diretor, justamente apostando em seu trabalho já conceituado como supervisor de efeitos especiais. E nisso ele é bem sucedido, tanto que o cineasta já levou o Oscar duas vezes por “Alice no País das Maravilhas” e “Avatar”, que citei anteriormente. Mesmo que os tempos sejam outros, é preciso de mais que um deslumbrante visual para se fazer cinema. 

malevola02
“Malévola” peca justamente onde todos esperavam que fosse inovar, no roteiro. Linda Woolverton (“Rei Leão”, “A Bela e a Fera”) não foi feliz no desenvolvimento de nenhum personagem. Nem a protagonista tem seu merecido ênfase: se perde tanto tempo na espera pelos 16 anos de Aurora, que não se explora bem a infância da personagem e nem a sua transformação de caráter, representada apenas por uma mudança de roupa e uma atuação canastrona. O meio da história fica tão arrastado, que na meia hora final se transforma em uma corrida no tempo para chegar ao grande clímax. No fim, a moral da história tem sua merecida e aguardada “renovada”, mas deixa a desejar ao desmistificar a antagonista. Todo vilão tem seu lado fraco, mas aqui se peca ao exagerar na exposição da fragilidade de “Malévola”. 

malevola03
Exageradamente aclamada pela crítica, Angelina Jolie vai pelo caminho fácil. Sua expressão é quase sempre a mesma, e seus trejeitos de vilã tão elogiados pela imprensa americana não passam de um “carão” de desfile de moda da Victoria Secrets. A sorte de Angelina é seu carisma. Ele está lá, presente o tempo inteiro, e é tão essencial quanto talento em si. A mulher de Brad Pitt cumpre seu papel, mesmo que não acrescente nada interessante ou mesmo relevante a personagem de 1954. 


Em suma, “Malévola” inova no visual com um roteiro falho e retrógrado. A vilã aqui é apenas uma mulher traída, que muda completamente o rumo de sua vida, de todo seu reino e até seu caráter por causa disso e depois se arrepende. Opa, já vi isso em algum lugar… Ah, sim! O nome disso é TPM! Afinal de contas, a “Malévola” não é tão diferente de qualquer outra mulher… “Well, Well, Well”…

 



COMPARTILHE



Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/radiorock/podcastbeta/wp-includes/script-loader.php on line 2876