A Rádio Rock absolve o álbum do U2 – Por Claudio Dirani
Entre 1987-1989, o U2 caiu na estrada global para comprovar seu status de maior banda de rock do momento. O cartão de visitas era “The Joshua Tree” e os singles “Where The Streets Have No Name”, “With Or Without You” e “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”. Com um álbum poderoso desses nas mãos, parecia que a banda irlandesa não tinha chance de falhar. Mas algo aconteceu no caminho. E este “algo” se chama “Rattle and Hum” – disco e filme que documenta a parte norte-americana da turnê que chegaria às lojas em outubro de 1988.
“Rattle and Hum” não foi um mero coadjuvante no mercado da época. Impulsionado por mais singles de sucesso, “Desire”, “All I Want Is You”, “Angel Of Harlem” e “When Love Comes To Town”, o álbum atingiu a primeira colocação nos EUA e Reino Unido e aumentou ainda mais a legião de fãs que os acompanharia até hoje. E com todo esse sucesso comercial, o que, então, pode ter dado errado?
A crítica jornalística da época é a resposta. Acusações de “pretensão” e “roubo de raízes” foram apenas alguns termos usados para sentenciar o U2, que teria “ido longe demais”, e que “estaria se levando muito a sério”. O jornal Los Angeles Times, por exemplo, em matéria publicada em 29/11/1988, apontou que o U2 era uma banda “incapaz de contar histórias verdadeiras, além de falhar ao tentar demonstrar senso de humor e devoção a uma determinada posição”.
Veredito
A produção de “Rattle and Hum” foi totalmente ímpar, em comparação aos trabalhos anteriores. O disco duplo é uma combinação de faixas ao vivo (“Bullet The Blue Sky”) e trabalhos que incluem parcerias de Bono com Bob Dylan (“Love Rescue Me”) e B.B. King (“When Love Comes To Town”).
Em sua aventura Americana, o U2 não deixou nada para trás. Durante a excursão pelos Estados Unidos, a banda fez questão de parar no berço do rock: o mítico Sun Studio, em Memphis, onde Elvis Presley gravou seu primeiro single em 1954.
Colocando na balança o ponto de vista dos críticos no final dos anos 80, podemos devolver a pergunta: o U2 tinha mesmo uma espécie de pretensão ao tentar comparar a força de sua nova música e combina-la às raízes do rock?
Bem, nos anos 2000, bandas e mais bandas transpiram essa mesma posição. Grupos como Bon Iver, The Avett Brothers, Mumford & Sons são alguns dos amantes que vivem do gênero.
Do lado reverso, relembramos que nomes como Bob Dylan e Paul Simon nasceram do folk, que tem como base a música irlandesa. Em resumo: o pop é um labirinto, um círculo onde os estilos vêm e vão e se misturam. Não há roubo. Não há pretensão. As raízes estão condenadas a se misturarem como um mix multicultural.
Anomalia
Mais de 20 anos depois de “Rattle And Hum” e sua polêmica, até mesmo o U2 ficou convencido de que o disco não teria sido “sua melhor cartada”. The Edge afirmou que “Rattle and Hum” foi, de fato, o álbum experimental, ao contrário do sucessor “Achtung Baby” e “Zooropa”. “Com “Achtung Baby” e “Zooropa” voltamos a fazer a música que costumávamos produzir. Europeia e industrial. “Rattle And Hum” foi uma anomalia”.
Também, em retrospecto, em 2014 fica muito mais fácil compreender o fascínio da banda pela cultura norte-americana. Com a mistura de seu som irlandês às cores de Jimi Hendrix, Elvis, Dylan, o blues e o country, a banda ganharia fôlego para continuar na estrada até hoje e ser relevante. Em suma: não há nada de errado com “Rattle And Hum”.
This post was last modified on 8 de janeiro de 2014 12:03