Riot Grrrl – Sim, É Para Mulheres, E Não, Não É Uma Nova Dieta!
Pelo talento e ousadia de muitas mulheres, o mercado do rock está cada vez mais aberto à inovações femininas, inúmeras rockstars quebraram paradigmas e fizeram história no mundo musical. Mas, é claro que não foi do dia para a noite que as elas conseguiram um espaço mais amplo no rock n´roll, que embora considerado “revolucionário” é um tanto quanto machista. Foi um longo processo que começou durante o século XIX e início do século XX com intensas atividades feministas nos Estados Unidos e Inglaterra.
E algo que contribuiu muito para isso, foi o Riot grrrl (ou riot girl) ( Riot = desorganização / encrenca + Girl = garota), um movimento que surgiu nos anos 90, dedicado à expressão radical do feminismo através da arte, da música e do ativismo. Um bando de garotas punk lutavam pelo poder feminino. O termo surgiu quando Allison Wolfe, do Bratmobile, resolveu produzir um fanzine feminista chamado Riot Grrrl, onde se rebelava contra uns dos dogmas sagrados do mundo do rock: Garotas não sabem tocar guitarra, bateria, ou baixo tão bem quantos os homens, e a única imagem exposta da “mulher no rock”, era a da tiete histérica ou das groupies. Devido a essa postura, várias garotas sentiam-se desencorajadas a tomar frente de uma guitarra ou qualquer outro instrumento.
As riot grrrls não faziam questão de se mostrarem bonitinhas, meigas, ou bem comportadas. Elas raspavam as cabeças, usavam roupas masculinas e, por vezes, como forma de protesto, se envolviam com outras mulheres, mostrando aos homens, de que eram tão capazes ou “até mais” do que eles. “Destruíam” revistinhas que “tornavam” as meninas “prendadas” com dotes domésticos e dependentes dos homens, além de destruírem também a imagem feminina aliada à fraqueza e aos moldes de estética, que forçavam garotas a ser o que a MÍDIA impunha e não o que elas realmente queriam ser ou eram de fato.
O movimento Riot foi popularizado por bandas de garotas como Bikini Kill e Tribe 8. Sem dúvida o maior destaque é a Kathleen Hanna, vocalista do Bikini Kill, banda que pode ser considerada uma das pioneiras (ou a criadora) do movimento. O objetivo era informar a mulher de seus direitos e incentivá-las a reivindicá-los e uma das principais formas, além de protestos, foi o uso da música, afinal a carreira musical feminina se resumia apenas aos vocais ou a qualquer função em bandas de músicas “leves”, e mesmo assim eram mal vistas. O ápice foi montar bandas de rock, com instrumentos pesados como baixo e guitarra com muitos efeitos e distorção, estilo e instrumentos inicialmente considerado como masculinos, nascendo assim, o gênero musical riot grrrls, como resposta às atitudes machistas punks.
Nos seus shows, as garotas do Bikini Kill por exemplo, costumavam “mandar” os rapazes para as filas mais distantes do palco, deixando as mulheres nos melhores lugares, e entregavam a elas folhas com as letras das músicas para que pudessem melhor acompanhar as canções. Kathleen costumava fazer os shows com os braços, abdômen ou costas escritos com slogans como: RAPE (“estupro”) ou SLUT (“vagabunda”), uma forma de reação à violência sexual e aos comentários “machistas” que determinavam as “Garotas do Rock” ou as mais “liberais” como vagabundas. O costume de escrever os “slogans” no corpo não parou com o Bikini Kill, até hoje várias bandas femininas se apresentam e se rebelam com o corpo riscado. Apesar da banda Bikini Kill ter sido a principal e mais influente, a que logrou maior atenção e fama foi a de Courtney Love, a banda Hole, que é considerada por alguns como o ícone supremo do movimento, mas por diversas vezes Courtney se negou a participar do “tal movimento feminista”, e não gostava da associação de sua banda ao Riot, criando assim, uma rixa pessoal com Kathleen.
No Brasil, a principal banda representante do rock feminista, é a Dominatrix liderada pela vocalista e guitarrista Elisa Gargiulo (surgiu em 1995 e ainda está na ativa, fazendo shows e realizando verdadeiros debates sobre as diversas causas femininas e o direito das minorias e grupos marginalizados), as extintas Bulimia, Cínica, Pulso, entre outras, que também abrangeram outros assuntos além do feminismo, como por exemplo a banda Suffragettes, que defenderam, além do feminismo, também o vegetarianismo, a filosofia straight-edge, a preservação ambiental, e mais diversos assuntos que estavam cada vez mais crescentes nas cenas undergrounds. É importante destacar que não só as mulheres defendem o Riot Grrrl, vários homens, inclusive rockstars já defenderam a causa feminina (#girlpower).
I Like Fucking – Bikini Kill:
Celebrity Skin – Hole
Shut Your Face – Bratmobile: